A tradição e o estatuto queriam antecipar o vencedor, mas o FC Porto teria de exibir os "porquês" do favoritismo no relvado. E foi isso que o Dragão fez. Jogou para vencer, com respeito pelo adversário, mas acima de tudo pelos seus princípios e pela vontade de enriquecer o palmarés com a 15ª Taça de Portugal. Com mais ou menos golos, com teorias hegemónicas para todos os gostos, a verdade é que o troféu andou de mão em mão no mar azul e branco. Pelo segundo ano consecutivo.
Com os adeptos portistas em clara maioria, a final arrancou com o Chaves a tentar competir à custa do emagrecimento dos espaços e do risco reduzido à expressão mínima, procurando que o contra-ataque fosse capaz de gerar tormentos. E foi precisamente na primeira dessas tentativas esporádicas, que foi antecedida por jogo perigoso, que os flavienses criaram a sua única oportunidade.
Guarín marcou logo a seguir, num remate cruzado pleno de força e colocação, e colocou o FC Porto num patamar ainda mais difícil de alcançar. Empurrado pelos seus adeptos, o Dragão tinha apenas de materializar as arrancadas de Hulk, o veneno de Falcao, o rasgo de Belluschi ou a rápida recuperação de Fernando e Meireles.
Os lances de golo sucediam-se ao ritmo dos aplausos. Cara a cara com o guarda-redes, de fora da área, na agonia dos cruzamentos a pedir endosso. Num desses desenhos, Hulk encostou para Falcao e o golo pareceu fácil. Mas não foi. Envolveu a dinâmica da equipa, acutilância e percepção. O intervalo só chegaria sem alterações no marcador porque a felicidade não desejou que Hulk, em dois ensejos, e novamente Falcao dirigissem o couro para destino certo.
Após o descanso, o Chaves procurou aglomerar ainda mais as peças e o tabuleiro voltou a emagrecer. A despesa pendia para o lado do FC Porto, que queria contornar e rasgar, derrubar em velocidade ou convencer com classe. Miguel Lopes ainda acertou na trave e Rodríguez insistiu em velocidade. A bancada perdia-se numa «onda» demorada, com gente de ambos os lados.
E, de repente, com tudo resolvido, a incerteza momentânea. Na segunda tentativa, uma vez mais com mácula (Clemente beneficiou de um toque com a mão), o Chaves reduziu e recuperou a crença. Foram os únicos instantes de algum sofrimento do FC Porto, obrigado a rebater a dignidade do oponente. Os festejos, contudo, já estavam montados. Faltava subir à tribuna.
FICHA DO JOGO
Final da Taça de Portugal 2009/10
Estádio do Jamor, em Oeiras (16 de Maio de 2016)
Árbitro: Pedro Proença (Lisboa)
Assistentes: Tiago Trigo e Ricardo Santos
4º árbitro: João Capela
GD CHAVES: Rui Rego; Danilo, Lameirão, Ricardo Rocha e Eduardo; Siaka Bamba; Edu, Bruno Magalhães, Castanheira «cap.» e Samson; Diop
Substituições: Castanheira por Flávio Igor (60m), Samson por Diego (61m) e Diop por Clemente (79m)
Não utilizados: Daniel Casaleiro, Vítor Silva, Heslley Couto e João Fernandes
Treinador: Tulipa
FC PORTO: Helton; Miguel Lopes, Rolando, Bruno Alves «cap.» e Alvaro Pereira; Fernando, Guarín, Raul Meireles e Belluschi; Hulk e Falcao
Substituições: Raul Meireles por Tomás Costa (46m), Miguel Lopes por Rodríguez (63m) e Guarín por Valeri (71m)
Não utilizados: Beto, Maicon, Farías e Addy
Treinador: Jesualdo Ferreira
Ao intervalo: 0-2
Marcadores: Guarín (14m), Falcao (23m) e Clemente (85m)
Disciplina: Cartão amarelo a Bruno Alves (12 e 90m), Bruno Magalhães (18m), Danilo (24m), Ricardo Rocha (40 e 90m), Eduardo (42m). Cartão vermelho, por acumulação, a Ricardo Rocha (90m) e Bruno Alves (90m)